quinta-feira, 20 de março de 2014

TCHOC, TCHOC, TCHOC, TCHOC...

Não sei muito bem de que ano essa lembrança afetiva de fato ocorreu... Esse barulho que me despertava pelas manhãs e que vinha do corredor até chegar ao quarto é uma das primeiras lembranças que recordo ter com minha Vevé. Esse barulho era como um relógio que me despertava com prazer, uma mamadeira com toddy que tomava ao acordar enquanto ainda via desenhos na TV. Como era bom... Talvez, desde esse momento me identificava com o Cazuza em sua camiseta que dizia: prefiro toddy ao tédio.
Criança não precisa de muita coisa para sentir prazer, está aberta, sem crostas que depois vão exigindo que os prazeres se façam de maneira mais sofisticada e que, por vezes, nos impedem de sentir bons afetos com simples momentos. Simples momentos que minha Vevé sempre me possibilitava. Um deles ocorria quando passeávamos de ônibus na intenção de visitar minha mãe no trabalho, onde sempre dormia no caminho nas suas gordurinhas que pareciam um travesseiro confortável.
Fui crescendo com a sua companhia, com seus variados doces e comidas que nunca terão comparação com os de qualquer outra pessoa. Suas mãos eram mágicas... E isso não sou eu, neto apaixonado que falo, todos que a conheceram sabem do que estou falando. Cremucho, panqueca, suco de uva, pão caseiro, nega maluca, massas, bifes, tortas, lista infinita de alimentos que não continham apenas a nutrição propriamente orgânica, mas um afeto saboroso que me nutrirá durante toda a vida.
Agora ela partiu e, rapidamente, como nos inspira novamente Cazuza, me vejo perdendo algo coisa, um afeto ingênuo, caloroso, que me acalentava a cada instante de medo que passava quando criança, algo que ficará guardado para enfrentar os momentos difíceis que a vida a todo instante nos coloca a prova. Que paradoxo! Ao mesmo tempo em que a guardo em mim e me sinto repleto dela, minha alma se esvazia a cada momento que me dou conta de que ela não está mais aqui...

Perdi um dos meus lados mais doces e estou com fome...

Música que o Cazuza fez quando sua avó partiu...