sábado, 15 de abril de 2017

a inscrição infinita de um rosto

https://www.youtube.com/watch?v=YGsLkKEfLCs

vídeo da inscrição infinita de um rosto, que se apaga na mesma velocidade que é reconstituído. isso mostra sem dúvida o movimento da vida, mas também podemos olhar que ele indica o movimento da morte e, sobretudo, a batalha entre essas duas forças. quando o ato de inscrição para de ser refeito, a morte e o vazio de sentido acabam por predominar, a página da vida retorna ao branco, a cegueira branca de Saramago vence. nossa vida é um resistir, “inscritivamente”,  a todo esse apagar-se que o tempo produz no existir. a vida não cansa de deixar para trás o que já foi para inaugurar o que virá, deformação no passado para um nascer de futuro, rasura depois de rasura nos traços que marcamos no mundo. lembremos da figura do simulacro de Platão, rasurada por Deleuze, que mostra que a vida é potente justamente por ser cópia da cópia do modelo ideal, do mundo ideal platônico. cópia da cópia. a fôrma primeira já não existe, pois a cada imitação ganha sutilmente outros desenhos, outras vidas, que minam a legitimidade da primeira. primeira que nem existe. não há primeira nem última, somente o entre, as infinitas possibilidades de passado e de futuro se agenciam sem parar, caducam a posição estável, desejam caos e instabilidade para sentir a vida a pulsar. estilo de inscrição de vida esquizo. escreve, borra, apaga, fragmenta, diferencia-se do modelo. algum risco fica e se faz mapa para um novo arriscar-se no muro que se inscreve a vida. muro branco, buraco negro, giros e mais giros em tentativas de filtrar e tapear o caos, de não se a ver com o abismo. abismo que para alguns é tão aterrorizador que acaba por formar uma defesa fascista, um tampão para dar conta da angústia que vem da relação com o fora, da louca exterioridade que “desrazoa” as inscrições já estabilizadas. que destino trágico é esse do desamparo das inscrições, tão belo e terrível ao mesmo tempo, vida e morte não cansam de pulular...