Neste dia reservado aos
psicólogos, fiquei a imaginar se tal festejo ocorreria quando tratamos da
psicanálise. Logo pensei - sem realizar nenhuma pesquisa - que isso seria uma
contradição, posto que uma disciplina que trata de se colocar num tempo outro,
aion, no atemporal, não teria como postular para si uma fundação. Tempo este
que é sempre um intruso, um mal-estar na vida cronológica, um desvio descabido
na lógica burocrata.
Apesar desta velhaca não
ter data e de causar tantas surpresas inoportunas com sua peste, gostaria de parabeniza-la,
não para requisitar um dia para ela, mas por sua resistência em não baixar a
guarda frente a um mundo em que impera uma tal de subjetividade mínima. A
psicanálise continua com vigor e contemporânea no sentido que Agamben atribui
ao termo, contemporânea por que olha de maneira enviesada para a atualidade, a
estranhando em cada encontro analítico que se passa na clínica. Neste sentido,
não estamos falando aqui de uma clínica contemporânea que, volta e meia, surge
com tecnologias que prometem, que afirmam a cura de todos os males, como se
pudéssemos nos limpar de todos os nossos pecados. Tal prática, inclusive, mesmo
que com novas maquiagens, é por demais antiga...
A psicanálise - seja a
que se utiliza do papai e da mamãe, seja a que explode o édipo - nos oferta a
possibilidade de sermos mais humanos, de desistirmos de sermos deuses, e de
aceitar nossas imperfeições ao ponto de revirá-las do avesso para que as
afirmemos, inclusive, enquanto potência de vida.