quinta-feira, 27 de agosto de 2015

UMA ODE À PSICANÁLISE NO DIA DOS PSICOS


Neste dia reservado aos psicólogos, fiquei a imaginar se tal festejo ocorreria quando tratamos da psicanálise. Logo pensei - sem realizar nenhuma pesquisa - que isso seria uma contradição, posto que uma disciplina que trata de se colocar num tempo outro, aion, no atemporal, não teria como postular para si uma fundação. Tempo este que é sempre um intruso, um mal-estar na vida cronológica, um desvio descabido na lógica burocrata.
Apesar desta velhaca não ter data e de causar tantas surpresas inoportunas com sua peste, gostaria de parabeniza-la, não para requisitar um dia para ela, mas por sua resistência em não baixar a guarda frente a um mundo em que impera uma tal de subjetividade mínima. A psicanálise continua com vigor e contemporânea no sentido que Agamben atribui ao termo, contemporânea por que olha de maneira enviesada para a atualidade, a estranhando em cada encontro analítico que se passa na clínica. Neste sentido, não estamos falando aqui de uma clínica contemporânea que, volta e meia, surge com tecnologias que prometem, que afirmam a cura de todos os males, como se pudéssemos nos limpar de todos os nossos pecados. Tal prática, inclusive, mesmo que com novas maquiagens, é por demais antiga...
A psicanálise - seja a que se utiliza do papai e da mamãe, seja a que explode o édipo - nos oferta a possibilidade de sermos mais humanos, de desistirmos de sermos deuses, e de aceitar nossas imperfeições ao ponto de revirá-las do avesso para que as afirmemos, inclusive, enquanto potência de vida.

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