Falar muito consigo mesmo sem
efetivar as ações exaustivamente planejadas em pensamento! Eis a característica
própria de nossos tempos. A angústia contemporânea se passa nessa
impossibilidade em calar-se para se permitir viver. O controle está em nós, basta
observar a quantidade de planejamentos que efetivamos no pensamento e que são
um desastre na “vida como ela é”. É um ensaiar-se mental que paralisa qualquer
ação em sua monotonia moral.
Somos da pior espécie de
tagarelas. Tal tagarelice nos faz refém de um pensamento que convoca a sempre
retomar as ações imaginadas perante o que virá. Numa nítida intenção de dar
conta do inesperado, aprisionando-o. No entanto, ao se retomar cada passo que
se daria rumo ao futuro, o inesperado acaba se tornando o esperado, isto é, não
se possibilita a saída de um circuito do mesmo. Nega-se o imprevisível, numa
angústia que forja inúmeras vezes o que está para vir, acanhando, então, os
movimentos de invenção. Fecham-se as portas para o plano virtual! O indivíduo,
por conseguinte, acaba por se endurecer nessa dinâmica que acontece no entre da
relação do porvir com o que o mesmo remete ao inventar, no agir inventivo que
possibilita o movimento de devir.
Nesta marcha que é controlada via
pensamentos do mesmo em relação ao vir a ser, o que se nota é um modo sufocante
de julgamentos apressados sobre uma possível projeção do futuro. Pensa-se tanto
e de variadas maneiras que não se sai do mesmo devido a sua característica de
não ação. As ações somente pensadas e não efetivadas se tornam uma espécie de
singularidade abortada, galhos secos que poderiam ter virado flores.
Pouco se avança em vida neste
processo de subjetivação, produzindo muito mais uma repetição de um igual
incessante. Assim, o homem em sua relação com o mundo desatualiza-se a si mesmo
de maneira crítica, se tornando um escravo, pois, o acaso toma as rédeas,
definindo a vida do indivíduo que só tem como saída a lamentação – o murmúrio
mental. Suas falas mentais se passam sempre pelo lamento, não retendo nada de
aprendizagem nas relações que por ele perpassam. Difícil sair desse circuito
tagarela no qual o “ouvido se comunica diretamente com a língua. Tudo o
que o tagarela recebe pelo ouvido escoa, derrama-se de imediato no que ele diz
e, derramando-se no que ele diz, a coisa ouvida não pode produzir nenhum efeito
sobre a própria alma” diria FOUCAULT. Há no processo tagarela que murmura para
si mesmo seus ressentimentos um enfraquecimento de alma, fica-se engasgado “por
palavras inúteis, de uma quantidade demente de falas e imagens. De modo que o
problema não é mais fazer com que as pessoas se exprimam, mas arranjar-lhes
vacúolos de solidão e de silêncio a partir dos quais elas teriam, enfim, algo a
dizer” já comentará DELEUZE.