segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

VIDA TAGARELA

Falar muito consigo mesmo sem efetivar as ações exaustivamente planejadas em pensamento! Eis a característica própria de nossos tempos. A angústia contemporânea se passa nessa impossibilidade em calar-se para se permitir viver. O controle está em nós, basta observar a quantidade de planejamentos que efetivamos no pensamento e que são um desastre na “vida como ela é”. É um ensaiar-se mental que paralisa qualquer ação em sua monotonia moral.
Somos da pior espécie de tagarelas. Tal tagarelice nos faz refém de um pensamento que convoca a sempre retomar as ações imaginadas perante o que virá. Numa nítida intenção de dar conta do inesperado, aprisionando-o. No entanto, ao se retomar cada passo que se daria rumo ao futuro, o inesperado acaba se tornando o esperado, isto é, não se possibilita a saída de um circuito do mesmo. Nega-se o imprevisível, numa angústia que forja inúmeras vezes o que está para vir, acanhando, então, os movimentos de invenção. Fecham-se as portas para o plano virtual! O indivíduo, por conseguinte, acaba por se endurecer nessa dinâmica que acontece no entre da relação do porvir com o que o mesmo remete ao inventar, no agir inventivo que possibilita o movimento de devir.
Nesta marcha que é controlada via pensamentos do mesmo em relação ao vir a ser, o que se nota é um modo sufocante de julgamentos apressados sobre uma possível projeção do futuro. Pensa-se tanto e de variadas maneiras que não se sai do mesmo devido a sua característica de não ação. As ações somente pensadas e não efetivadas se tornam uma espécie de singularidade abortada, galhos secos que poderiam ter virado flores.

Pouco se avança em vida neste processo de subjetivação, produzindo muito mais uma repetição de um igual incessante. Assim, o homem em sua relação com o mundo desatualiza-se a si mesmo de maneira crítica, se tornando um escravo, pois, o acaso toma as rédeas, definindo a vida do indivíduo que só tem como saída a lamentação – o murmúrio mental. Suas falas mentais se passam sempre pelo lamento, não retendo nada de aprendizagem nas relações que por ele perpassam. Difícil sair desse circuito tagarela no qual o “ouvido se comunica diretamente com a língua. Tudo o que o tagarela recebe pelo ouvido escoa, derrama-se de imediato no que ele diz e, derramando-se no que ele diz, a coisa ouvida não pode produzir nenhum efeito sobre a própria alma” diria FOUCAULT. Há no processo tagarela que murmura para si mesmo seus ressentimentos um enfraquecimento de alma, fica-se engasgado “por palavras inúteis, de uma quantidade demente de falas e imagens. De modo que o problema não é mais fazer com que as pessoas se exprimam, mas arranjar-lhes vacúolos de solidão e de silêncio a partir dos quais elas teriam, enfim, algo a dizer” já comentará DELEUZE.

O ADIAMENTO DAS UTOPIAS

A produção de um medo individualizado e individualizante, o terrorismo de que se ficará para trás dependendo das posições que se escolha, a ameaça ao sujeito de que poderá perder a sua vida caso tome uma decisão arriscada, aniquila qualquer ação singular e coletiva, mortifica a existência do que insiste em resistir. O sujeito torna-se refém de sua própria passividade, o que o faz hesitar quando convocado a qualquer ação coletiva que coloque em risco seu projeto de vida de propaganda de margarina. Suas tímidas revoltas para com o sistema, quando se dão, são apenas quando algo pessoal lhe atinge. Mais do que isso seria muito esforço... O que está em jogo é o adiamento eterno das utopias, dos sonhos, dos virtuais que são como fantasmas a tensionar o cotidiano posto.

SOBRE AMORES

Amores possíveis nos acompanham,

Já os impossíveis... arrastam!