Hoje acordei cansado.
Desanimado com a impossibilidade de
sonhar.
O frio não compõe com o meu corpo, ele me
debilita muito, me deixa inflamado por dentro. Por mais que as inflamações
possam indicar questões, a toda hora isso cansa. Neste sentido, o sonho europeu
vai se distanciando. O mais prudente é que a Europa seja um lugar de passagem,
de visitas esporádicas.
Mas cá estou a pensar que a academia, como
hoje é armada, também será um lugar de passagem. Amo aprender, ler, pensar,
escrever, trocar ideias com alunos, colegas, professores, mas isto é vinte por
cento, no máximo, do que se exige na academia. Há uma exigência burocrática
desencantadora junto ao meio acadêmico, e creio que isso só ficará pior com o
passar dos anos. A precarização do trabalho é iminente em todo o mundo e
ninguém mais parece conseguir ter estabilidade para parar em reflexões mais
extensas e “pouco” produtivas em termos de publicações, por exemplo. Tudo isso
diz respeito a desvalorização do professor, do escritor, do pensador no mundo
de hoje. O que importa são metas, publicações, projetos, editais que salvem a
renda dos acadêmicos. Não há tempo de parada neste meio competitivo como todos
os outros que giram em torno do capital. A cada semestre, a cada ano, o
acadêmico que se prese, e que deseje sobreviver disso, deve lançar-se em busca
de editais que financiem seus projetos que, com sinceridade, pouco muda o mundo
para além de salvar seu salário. Não há desejo de pensar o pesquisar, há desejo
de editais, de financiamentos, de busca de recursos, é uma rinha de galo a cada
dia.
Com tudo isso fico a pensar o quanto a
vida se gasta inutilmente nessas relações de busca de recursos, acadêmicos
felizes pelas migalhas que ganham sem perceberem que suas vidas vão fenecendo
sem saírem dessa bolha. Certamente não existe diferença entre este meio e todos
os outros que estão dentro do sistema capitalista, a academia é só mais um
lugar no qual se entrega a vida para se receber alguns trocados, algumas
viagens, algumas fotos requintadas e de sucesso.
Pergunto-me se tudo isso vale a pena. Para
que se enfiar neste meio, ficar a vida inteira nesta velocidade acelerada e
depois ver que a vida passou sem desfrutar de um mínimo de sossego? São TCCs a
orientar, editais a se concorrer, textos a publicar, discussões entre iguais
para ver quem se destaca mais em um meio cheio de gente querendo ser genial.
Para que serve tanto desgaste, tanta gastura de vida?
Meu desejo é ser escritor, ler, participar
de discussões com professores e alunos e ponto! E no momento a única coisa que
não faço é isso, emaranhado que estou com os “compromissos” acadêmicos. Parece
que superando as etapas um dia chego neste lugar desejante. Mas já se vão quase
15 anos e não parece que tenha me movido muito ao ponto de me ver fora dessas
garras que me jogam para tal sistema burocratizante.
Minhas condições financeiras parecem não
me ajudar muito também, não me sinto convencido de que possa sair dessa rede
acadêmica sem me dar mal. Desistir dela agora!? Depois de tantos esforços!? Mal
sei pregar um prego, o que eu iria fazer para garantir o mínimo?
Num mundo que poucos leem como poderia
apostar em viver de escrita? E será eu alguém que tenha talento para isso? Vai
saber...
Para além disso, sinto que cada lugar que
imagino ser meu oásis, ao chegar nele, logo tal esperança se esvazia, torna-se
frequente o minguar das expectativas que tinha por tal encantamento passado. E
isso não é tratável, em tudo sou assim, o mundo é assim! Desanimo fácil de
minhas conquistas, seja em âmbito amoroso, no estudo ou trabalho, há sempre um
objeto melhor a se consumir-desejar. O ideal seria ser nômade, mas sem
garantias financeiras fica difícil nos dias de hoje, ao menos para mim, apegado
que sou a certos confortos.
Enfim, meus sonhos, como os doces
portugueses, são vistosos, mas ao degustá-los logo perdem a graça, o sabor. O
pior é que não consigo parar de comê-los, de consumi-los, de gastá-los pelo
mundo, com um tom sempre blasé, gosto do que perdeu a graça... Até quando?