Acho que muitas pessoas já viram, eu, como o Rubinho Barrichello, acabei de ver de maneira atrasada. Até então, só ouvia falar deste vídeo, alguns elogiando por tratar da falta na leitura psicanalítica, outros dizendo que o assunto era batido, outros ainda problematizando a falta para enaltecer a diferença.
Eu curti o vídeo.
A youtuber doidona, em tese, fala do desejo como falta tão "manjado" da psicanálise. Ela faz seu comentário a partir de um livro no qual o personagem principal vai em busca de algo que o complete. Todavia, mesmo quando encontrava algo familiar e complementar nesta procura, por razão nenhuma além do tempo que desgasta, percebera que uma hora tal encontro complementar acabava por perder o sentido, abandonando ou sendo abandonado pelo objeto então enamorado. O personagem novamente se colocava em busca da falta que entendia ter terminado com o objeto ilusoriamente complementar que julgava ter achado, mas que desgastou-se com o passar do tempo. A vida segue. Aqui temos a cena do desejo como falta, com a qual podemos salientar que o importante não é achar propriamente algo que complemente o sujeito, pois na verdade este objeto platonicamente idealizado se esvai, escapa, falamos do objeto a, de Lacan. Neste sentido, a miragem não é para ser alcançada, ela serve pura e simplesmente para irmos adiante na vida...
Mas, a youtuber também fala, talvez sem querer, silenciosamente, do desejo como diferença. Por que à medida que o personagem rola pela vida em busca do encontro sublime com o que supostamente lhe completaria, ele vai rolando e se encontrando com outros corpos. E isso o potencializa, faz ele possuir uma vida de encontros e surpresas, pura diferença de corpos em processo de afetação.
Desta forma, podemos observar que a youtuber fala do desejo na psicanálise e na esquizoanalise em uma tacada só. E mais, constrói uma narrativa que não produz exclusão entre elas no que tange a diferenciação que têm em relação ao desejo. Afirma, assim, uma dinâmica que se desenrola entre os dois movimentos que envolvem o desejo: a falta e a diferença.
https://m.youtube.com/watch?feature=share&v=GFuNTV-hi9M
Este blog trata das viagens do cotidiano, das imagens que invadem a vida na insistência de uma convocação para um mais viver...
quarta-feira, 28 de março de 2018
Escuta da repetição ou escuta da variação?
A escuta, em psicanalise, não se passa propriamente em destacar as repetições coladas no discurso e atos de um sujeito. Ao que parece, isto seria apenas o primeiro passo, no caso, o de tensionar o sintoma e seus percursos que conduzem sempre a um mesmo enredo. O objetivo ético da escuta, seu real ato clínico, seria o de transpor o olhar que o sujeito emite em relação ao que em si se repete. Uma transposição que produz um olhar que seja mais leve, humorado, um brincar que escolhe rir dos próprios tropeços ao invés de se flagelar por eles. Não teremos a cura do que se repete, mas podemos ter a esperança de que é possível variações no modo de lidar com o que se repete em nós. Passamos de seres ensimesmados para seres inventivos então. Talvez, este espaço de passagem, seja o que a atmosfera clínica da psicanálise possa oferecer em sua escuta.
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