segunda-feira, 14 de maio de 2018

A história do futebol brasileiro: o mundo GreNal


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12 de maio de 2018

Em Casos e histórias, Tribunal da bola
Por Na Furquilha

Por terras gaúchas, ao sul do país, habitam e reinam dois gigantes do futebol brasileiro. Grêmio e Internacional (GreNal) são os únicos clubes do Brasil que de alguma forma medem forças, de igual para igual, junto às potências da região Sudeste, maior centro econômico tupiniquim.
Internacional e Grêmio variam em suas glórias ao longo das décadas – quando um está bem o outro está mal, e vice-versa. No Rio Grande do Sul isso também é conhecido como a “gangorra GreNal”. O fato é que, invariavelmente, um ou outro conseguem feitos gigantes que, na soma da história, elevaram a dupla aos postos mais altos do país do futebol. A dupla GreNal, ao representar o estado sul-rio-grandense, é o terceiro maior campeão em Campeonatos Brasileiros, o segundo em Copas do Brasil, o segundo em Libertadores, o primeiro em Sul-americanas e em Recopas Sul-americanas, e o segundo em Mundiais. Glórias conquistadas a unhas e dentes, dentro de um país com milhares de clubes e famoso por formar os grandes gênios do maior espetáculo esportivo da terra.
O que acontece com esta dupla para conseguir tais feitos, distinguindo-se das demais regiões do Brasil, que acabam coadjuvantes em relação aos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais? Seria possível efetuar várias análises, pensar infinitas hipóteses, ou, simplesmente, entender que não há uma explicação cabível para algo que se torna quase místico, tocado tão somente pela magia do futebol de nos reservar sempre surpresas em suas batalhas pelo amor da pelota.
A hipótese aqui traçada diz respeito a algo de singular que atravessa Inter e Grêmio no que tange a alma institucional de ambos, no caso, sua localidade territorial dentro do Brasil. O Rio Grande do Sul, casa da dupla GreNal, é fronteiriço às linhas do Uruguai e da Argentina, o que produziu uma cultura que acolhe tanto os costumes brasileiros como os uruguaios e os argentinos. O povo rio-grandense é, então, brasileiro, assim como “gaucho”. “Gaucho” sem acento no ‘u’ mesmo, que indica a cultura sulista do sul das Américas, das bandas orientais como se dizia em séculos passados.
E essa miscigenação parece trazer efeitos para a proposta futebolística da dupla, já que temos, de um lado, toda uma cultura do jogo bem jogado, do toque de bola, do ganhar jogando bonito, significantes do futebol brasileiro, e do outro lado uma cultura que atravessa gerações ao sul da América Latina e que indica um futebol de muita raça, que, inclusive, volta e meia descamba para a violência. Este futebol “gaucho”, sobretudo, supera seus adversários a partir da força, muito mais do que pela técnica. Neste sentido, no futebol praticado entre as fronteiras de Brasil, Uruguai e Argentina, temos dois estilos de jogo: o brasileiro, repleto de gingado e brilho, que recorre à habilidade técnica como magia para vencer obstáculos no campo, e o “gaucho”, marcado pela bravura de um rosto robusto e de poucos amigos, que cozinha em fogo baixo seus oponentes para derrubá-los em momentos de exaustão. Grêmio e Inter nascem desta fusão, e em muitos momentos encantam o futebol brasileiro e mundial aliando técnica e garra, improvisação e estratégia de batalha campal.
Por fim, ainda é possível explorar as singularidades entre os dois times e indicar que, ao longo da história, um é sutilmente mais marcado pela técnica brasileira, e o outro pela raça das bandas orientais. O Inter costuma ganhar seus títulos com um futebol aguerrido, mas sobretudo bem jogado. Basta lembrarmos do rolo compressor dos anos 40, de Falcão e da extraordinária classe dos anos 70 e, mais recentemente, de Fernandão e todo o seu estilo técnico que levou o Inter ao topo do mundo. Jogar vistosamente é o modo colorado de ser. O Grêmio, também conhecido como imortal tricolor, quando atinge seus grandes feitos sempre é acompanhado de uma dramaticidade no estilo da Revolução Farroupilha, com muito sofrimento e um sentimento de que a guerra estava perdida, mas que, ao final, é revertido em glórias inacreditáveis. Suar sangue é o modo gremista de ser.
Sem dúvidas que existem desvios da representação aqui traçada. Não é preciso olharmos para mais longe que o Grêmio absolutamente técnico da atualidade, ou lembrarmos do drama colorado na conquista do mundial contra o Barcelona, com direito a jogador do Inter terminar o jogo sangrando, no inesquecível caso do zagueiro Índio. O Grêmio é entre os times brasileiros o mais ‘gaucho’, o Inter é entre os ‘gauchos’ o mais brasileiro, e ambos transitam antropofagicamente nesse ínterim de estilos campeões no futebol.

PS: Será que o GreNal é o maior clássico do Brasil? Ou para quem será que essa glória está reservada?

Um texto de
MÁRIO FRANCIS PETRY LONDERO
e equipe Na Furquilha
[…] pós-créditos
O autor deste artigo é Doutor em Psicologia Social e Institucional, e cronista nas horas vagas. Interesses e aspirações em comum entre o autor e a Furquilha, em especial o amor puro ao futebol, levaram a este excelente material que você acaba de ler. Que venham muito mais casos e histórias como este!

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