Este blog trata das viagens do cotidiano, das imagens que invadem a vida na insistência de uma convocação para um mais viver...
segunda-feira, 19 de agosto de 2019
Sobre a plenitude do silêncio
só sabem o valor do silêncio pleno aquele que é um budista em estado nirvânico ou pais que recém nanaram suas crias
segunda-feira, 25 de março de 2019
Sobre o fascismo de cada dia
Em o mal estar na cultura, Freud elencara três aspectos que produzem sofrimento no humano, a saber, a falência do corpo, os desastres naturais e a comunicação nas relações humanas. A última seria a única que a psicanálise poderia ofertar escuta, no caso, acolher a dificuldade existente na interação comunicativa entre um sujeito e o outro, e suas possíveis decorrências discursivas que produziria o singular/sintoma em cada um. Buenas, sabemos que isso é impossível de se curar, pois este hiato existente entre o eu e o outro é, ao mesmo tempo tenso e destrutivo, como também constitutivo e, em última instância, inventivo. Afinal, é este desalinho, esta diferença, que nos convoca a nos questionarmos e a deslizarmos por vários outros eus que pululam em nós ao longo da vida a partir do contato com o outro.
O grave, e problemático de nossa época, é que parece que a comunicação entre as diferenças está se precarizando à medida que temos mais meios de comunicação. Quanto mais instrumentos de comunicação produzimos, sobretudo os virtuais, mais enraizados em nós mesmos parece que estamos a ficar. Cada vez mais afastados do que difere, nossos grupelhos virtuais ganham força e nos fazem ver o outro, em sua diferença, como um terrível inimigo. A todo custo o que está em jogo é deter a existência do outro, sobrepondo-se a ele o discurso que entendemos ser "O" verdadeiro, mesmo ele sendo absolutamente estapafúrdio. Ganha -se, literalmente, no grito.Ora, será que só existe espaço para este tipo de relação?
Modos de relação narcisistas diriam uns, modos de relação fascistas diriam outros. O fato é que não parecemos ter mais habilidade para se comunicar com os outros sem enxergá-los como coisas que podemos arrastar nossas ideologias em nome de nossa razão, talvez de nossa fé. O campo macropolitico indica isso, algumas religiões e fiéis demonstram isso didaticamente, muitos homens demonstram este modo narcista pateticamente em suas relações abusivas e violentas com as mulheres, e uma parcela de lutas legítimas, atribuídas a esquerda, também tropeçam nisso que tanto problematizam.
Será que a cisão entre o eu e o outro está fadada a ser entendida como ameaça e, por isso mesmo, a solução é a criação de muros que nos protegem do abismo que o outro nos oferece em sua diferença? É a lógica do condomínio que prevalecerá, nas palavras do Dunker? Ou podemos resgatar uma ética de vida que entenda o outro como uma fenda, pela qual ao passarmos descobrirmos o quão pobres éramos ao ver o mundo apenas pelos nossos olhos? Pela qual descobrimos que o outro não é ameaça, mas sim um trampolim para elevarmo-nos sobre nós mesmos.
Talvez, no íntimo de cada um, o medo é de perceber o quão pequenos somos, ao contrário do que tentam nos vender com os discursos de grandiosidade espraiados por todos os cantos deste mundo globalizado e ilusoriamente sem limites.
sexta-feira, 4 de janeiro de 2019
sobre o rosa e o azul
ultimamente, perco com facilidade o sono pela noite, busco silêncio completo, distraio-me da vida e fico concentrado em uma viagem de minha mão na barriga de minha companheira. ela, adormecida, embala a viagem a espera de nossa filha. atento a qualquer sinal de comunicação que a Mônica venha a dar, com a mamãe já em sono profundo, sonho acordado. não tenho ela dentro de mim concretamente, mas o elo amoroso, como uma banho de cachoeira, invade cada poro do corpo. contato inexplicável que se passa entre minha mão, a barriga de "minha barriguda" (quase maior que a minha já) e a Monikinha.
quietinho, sintonizado a barriga, paro de respirar e tomo um susto gostoso a cada chute que ela dá. me surpreende a cada gesto e, como a mãe dela, me encanta e me diverte com suas travessuras já começadas e inscritas em um universo por vir. que vontade de pegar esse pezinho que chuta avisando que logo chegará para bagunçar a casa. que desejo de niná-la, de ficar horas a brincar com ela e de ver o tempo passar, de ver todos os acontecimentos e tropeços inventivos que passará, passarinho...
um livro ainda não escrito se inscreve, no momento, neste contato mão-barriga-chutes-afetos de corpos. tento imaginar os destinos que iremos traçar em conjunto, mas sempre escapa, é inimaginável como uma estrela cadente que, como tal, nunca se sabe onde irá parar.
devir gravidez.
promessa de vida no coração, potência animalesca que não cessa de dizer sim. a vida pode mais que o horizonte posto!
existe maneira melhor para se começar um ano que, politicamente, promete ser sombrio? o nascimento é o instante da paixão, que, como uma onda na beira da praia, tem a potência de apagar pegadas marcadas na areia para um recomeço. que o ano venha e nos surpreenda com vidas indomáveis pelas rédeas daqueles que desejam para trás. a vida é para a frente, nos arrasta feito as crianças que puxam seus pais pelas mãos em suas excitações frente a um mundo por descobrir. azul e rosa são belas cores, entretanto, não dão conta de colorir com canetinhas uma vida desenhada em um papel. o mundo está muito mais para arco-íris do que para tv em preto e branco...
Assinar:
Postagens (Atom)