sexta-feira, 22 de março de 2024

Sobre a morte da esquerda, lutas e greve

 

Safatle propôs uma reflexão na qual indica que a esquerda morreu, e que ela teria de se reinventar no contexto atual em que vivemos, tanto a nível brasileiro como mundial. A proposta de gerir o estado a partir de uma capitalização dos setores pobres da sociedade e ao mesmo tempo garantir a preservação dos ganhos da elite rentista parece ter esgarçado, caducado. E neste cenário, obviamente, a população pobre é quem cada vez mais fica sem nada, já que é inegociável, a qualquer governo, retirar os ganhos da elite rentista. Basta ver a pressão sofrida nos últimos meses no governo Lula na gestão da Petrobrás.

Nestas condições, o que Safatle percebe é um desgaste cada vez maior de uma suposta esquerda, que tenta jogar o jogo democrático capitalista e que não sai do lugar, e o crescimento de uma direita radical e fascista que se organiza mundialmente e que, eu ainda diria, sabe usar como ninguém a influência das tecnologias digitais e das redes sociais para se estabelecer e produzir uma narrativa própria e única.

Buenas, no todo, o diagnóstico do autor me parece acertar na mosca. Contudo, me surpreende um analista que admiro tanto analisar o cenário político com um viés tão idealista para pensar o que seria a esquerda nos dias atuais. Vivemos em uma sociedade de fluxos intensivos, de hibridismos inimagináveis até pouco tempo atrás. E na política não é diferente. Como, então, pensar em uma esquerda ideal na prática de um governo, que viraria o tabuleiro democrático capitalista com um estalar de dedos? Esta possibilidade existe? Penso ser um tanto ingênuo acreditar em tal via. Mais ingênuo ainda é crer em alguma revolução socialista ou algo do gênero. Estamos mais é para um trágico fim do humano por conta da voracidade do capitalismo que está levando o mundo ao colapso, no qual talvez não sobre ninguém para contar história.

Nas últimas semanas, na linha safatleana, se iniciou movimentos de greve nas Universidades Federais, primeiro com os técnicos, que já deflagraram greve, e agora com os professores, que a partir dos sindicatos começam a se enamorar com a greve. A greve se passa pela justa causa de aumento salarial e por ajustes nos planos de carreira, mas também por insatisfação com o terceiro governo de Lula. Por este ideal de esquerda, que espera, após as eleições, que o governo que colocaram no Planalto governe a partir de um norte progresssista, é que temos uma insatisfação que deseja greve.

Contudo, na minha opinião, isto me parece surreal, pois, imaginar que o governo Lula tem forças para radicalizar e sair dos trilhos da democracia capitalista, é muita falta de leitura do tabuleiro político nacional e internacional. Afinal, como dobrar um congresso que é o mais reacionário da história da democracia brasileiro pós ditadura? Como sair das chantagens? Lira está lá na presidência da câmera, sentado em centenas de pedidos de impeachment contra Lula. Ele tem o poder de dizer até onde o governo pode ir, quais ministros devem compor o governo, o quanto a bancada evangélica, da bala e do gado têm a receber de benefícios. Fora o orçamento secreto, que nada mais é do que a propina legalizada que o governo não pode mexer e que faz muita falta aos cofres públicos e aos projetos que poderiam estar sendo implementados no desenvolvimento do Brasil e não jogados sabe-se lá em que ralo. Enfim, temos um governo fantoche do congresso e, obviamente, da elite rentista. O que fazer? Enquanto base que votou a favor de Lula, começar a fazer chantagens a partir de greve tal como o congresso seria a solução? Será que esquecemos do governo fascista que precedeu Lula e que está aí louco para retornar? Afinal, a greve servirá para quê? Na minha opinião, só para desgastar este governo frágil e fortalecer a direita organizada e fascista.

Se querem fazer greve, se é desejado o protesto, que o façamos por uma causa justa, por algo que não apenas destrua este governo supostamente de esquerda que, em verdade, só consegue fazer ações de um governo de centro como diria Safatle, mas que, ao menos, barra o sanguinário governo fascista. Se a esquerda quer se reinventar, que não seja fragilizando o pequeno norte à esquerda que temos. Vamos para as ruas, façamos greve, mas para protestar contra este congresso chantagista, para indicar que apoiamos o governo Lula no que ele pauta a partir da esquerda, que indiquemos que queremos nosso governo de volta, que se retire o orçamento secreto e todas estas sanhas de poder deste congresso absolutamente cínico e corrupto, que se tenha cobrança valioso de impostos sobre grandes fortunas e sobre as igrejas, sobretudo as evangélicas corruptas, alienantes e produtora de fascismo e de direcionamento político da população.


https://aterraeredonda.com.br/causas-da-greve-nas-universidades-federais/


Nenhum comentário:

Postar um comentário