Não
presto muita atenção em datas comemorativas, soam estranhas... Tirando a
comemoração de nascimentos, que me atraem creio eu pelo atravessamento
astrológico que levo junto comigo, o restante das comemorações me parecem um
tanto sem sentido, sem tempero. Contudo, dia 15 de outubro, que até receber o
primeiro parabéns não me lembrava que era o dia do professor, me tocou, algo
estranho me tomava a cada congratulação. Talvez, por ser o primeiro ano que
estou “oficialmente” lecionando, ainda não me acostumei com a profissão, seu
dia-a-dia, e com a própria representação do ser professor que depositam em mim.
Estranhei...
Entretanto,
ao pensar sobre o dia, sobre a profissão e sobre esse encontro que ocorre no
ato de ensinar-aprender, percebi que o estranhamento está para além desse
processo de inauguração que passo neste ano. A primeira coisa que pensei quando
me deram parabéns foi: será que existe o dia do aluno? E como separar essa
dupla nas comemorações se tais atores sempre estão juntos?
O
processo de ensino-aprendizagem só existe em dupla, isto é, como já comentei,
entre professor e aluno, sendo que, na verdade, ambos ensinam e aprendem um com
o outro. Que pretensão achar que um professor, diante de um pouco mais ou um
pouco menos de 20 pessoas somente iria ensinar e não aprender! É incrível o
quanto se aprende enquanto professor ao praticar o ato de ensinar. Arrisco a
dizer que aprendemos muito mais quando ensinamos do que quando estamos a
aprender, se é que essa separação ainda é possível. Ao menos foi esse o
sentimento que me deparei desde as primeiras oportunidades que tive de dar
aula. E não precisamos ficar somente neste exemplo mais clássico advindo da
instituição educação, se formos observar a relação pai-filho, mãe-filho, como
poderíamos imaginar que somente a criança está a aprender e os pais a ensinar? Os
pais, no ato de cuidar, são convocados a se reinventar, rever posições, ideais,
afetos que até então tinham um contorno já devidamente constituído. Creio que
ficam de pernas para o ar e têm que aprender a lidar com isso...
Como psicólogo, no que
tange a clínica, também me parece que o processo terapêutico ocorre com a
dupla, entre paciente e terapeuta, não pendendo apenas para um lado o ato de
ensinar e para o outro o ato de aprender. A dupla percorre sofrimentos,
angústias, inventam vida no cotidiano posto. Há ensinamento-aprendizagem mútuo!
Ou melhor, a produção de um encontro analítico ocorre à medida que são
percorridos os afetos de ambos, analista e analisando, cada um seu lugar, inventam
em conjunto estratégias para se elevarem ao que está colocado enquanto
angústia. Não há terapeuta neste mundo que não se reinvente a cada encontro com
o paciente.
As relações de amizade
também percorrem esse processo de ensino-aprendizagem, nas trocas afetivas
entre amigos aprendemos e ensinamos. Talvez, longe dessas hierarquias de
professor-aluno, pais-filho, terapeuta-paciente, a relação de amizade seja a
mais potente troca de aprendizagem que pode existir, pois nela ninguém quer
ensinar ou aprender com o outro, ao menos, não se tem essa pretensão. As
experimentações que ocorrem com essa dupla não têm a intenção de ensinamento, e
muito menos se está preocupado com certa postura que implica estar mais ou
menos contido na relação de acordo com a posição que se assume como ocorre
entre professor e aluno, pais e filho, terapeuta e paciente.
Exposto meu pensar,
gostaria de compartilhar o dia do professor junto aos alunos e reivindicar a
comemoração do dia da troca, do dia do professor-aluno-aluno-professor, do dia
em que comemoremos o devir amizade em qualquer relação que estivermos em vida.
Posto que o mundo se torna muito enfadonho quando apenas ficamos encarcerados
na posição de ensinar ou aprender...
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