quarta-feira, 16 de outubro de 2013

SOBRE O DIA DO PROFESSOR OU AS HIERARQUIAS ESTÃO A FAVOR DA REGULAMENTAÇÃO DOS AFETOS


            Não presto muita atenção em datas comemorativas, soam estranhas... Tirando a comemoração de nascimentos, que me atraem creio eu pelo atravessamento astrológico que levo junto comigo, o restante das comemorações me parecem um tanto sem sentido, sem tempero. Contudo, dia 15 de outubro, que até receber o primeiro parabéns não me lembrava que era o dia do professor, me tocou, algo estranho me tomava a cada congratulação. Talvez, por ser o primeiro ano que estou “oficialmente” lecionando, ainda não me acostumei com a profissão, seu dia-a-dia, e com a própria representação do ser professor que depositam em mim. Estranhei...

            Entretanto, ao pensar sobre o dia, sobre a profissão e sobre esse encontro que ocorre no ato de ensinar-aprender, percebi que o estranhamento está para além desse processo de inauguração que passo neste ano. A primeira coisa que pensei quando me deram parabéns foi: será que existe o dia do aluno? E como separar essa dupla nas comemorações se tais atores sempre estão juntos?

            O processo de ensino-aprendizagem só existe em dupla, isto é, como já comentei, entre professor e aluno, sendo que, na verdade, ambos ensinam e aprendem um com o outro. Que pretensão achar que um professor, diante de um pouco mais ou um pouco menos de 20 pessoas somente iria ensinar e não aprender! É incrível o quanto se aprende enquanto professor ao praticar o ato de ensinar. Arrisco a dizer que aprendemos muito mais quando ensinamos do que quando estamos a aprender, se é que essa separação ainda é possível. Ao menos foi esse o sentimento que me deparei desde as primeiras oportunidades que tive de dar aula. E não precisamos ficar somente neste exemplo mais clássico advindo da instituição educação, se formos observar a relação pai-filho, mãe-filho, como poderíamos imaginar que somente a criança está a aprender e os pais a ensinar? Os pais, no ato de cuidar, são convocados a se reinventar, rever posições, ideais, afetos que até então tinham um contorno já devidamente constituído. Creio que ficam de pernas para o ar e têm que aprender a lidar com isso...

Como psicólogo, no que tange a clínica, também me parece que o processo terapêutico ocorre com a dupla, entre paciente e terapeuta, não pendendo apenas para um lado o ato de ensinar e para o outro o ato de aprender. A dupla percorre sofrimentos, angústias, inventam vida no cotidiano posto. Há ensinamento-aprendizagem mútuo! Ou melhor, a produção de um encontro analítico ocorre à medida que são percorridos os afetos de ambos, analista e analisando, cada um seu lugar, inventam em conjunto estratégias para se elevarem ao que está colocado enquanto angústia. Não há terapeuta neste mundo que não se reinvente a cada encontro com o paciente.

As relações de amizade também percorrem esse processo de ensino-aprendizagem, nas trocas afetivas entre amigos aprendemos e ensinamos. Talvez, longe dessas hierarquias de professor-aluno, pais-filho, terapeuta-paciente, a relação de amizade seja a mais potente troca de aprendizagem que pode existir, pois nela ninguém quer ensinar ou aprender com o outro, ao menos, não se tem essa pretensão. As experimentações que ocorrem com essa dupla não têm a intenção de ensinamento, e muito menos se está preocupado com certa postura que implica estar mais ou menos contido na relação de acordo com a posição que se assume como ocorre entre professor e aluno, pais e filho, terapeuta e paciente.

Exposto meu pensar, gostaria de compartilhar o dia do professor junto aos alunos e reivindicar a comemoração do dia da troca, do dia do professor-aluno-aluno-professor, do dia em que comemoremos o devir amizade em qualquer relação que estivermos em vida. Posto que o mundo se torna muito enfadonho quando apenas ficamos encarcerados na posição de ensinar ou aprender...

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