Um dia, ganhamos uma bicicleta, ficamos
felizes mesmo sem saber usar tal objeto que nos faz percorrer ruas, praças e
que nos desloca por múltiplas paisagens. Saímos com ela ao lado, cheios de
emoção e doidos para experimentar as pedaladas. Talvez, ao subirmos nela é que
venha a pergunta: como fazemos isso? As primeiras pedaladas dão medo, impera a
certeza de que iremos nos esborrachar no chão, porém para sermos dignos de
pedalar temos que superar tal temor.
Ainda bem que ela vem com
rodinhas e que, normalmente, alguém nos olha e nos guia sobre como proceder nas
pedaladas um tanto desequilibradas de começo. Os dois apoios são necessários,
acoplados um no outro: as rodinhas que sustentam a bicicleta ainda bamba para
se andar com apenas duas rodas, e o olhar que nos investe de coragem daquele
que nos ensina. Ambos são determinantes para aprendermos a sentir a brisa leve
que bate no rosto em decorrência da velocidade que ganhamos no pedalar.
Aos poucos, ganhamos
independência do olhar e das rodinhas, tira-se uma primeiramente, equilibra-se
meio torto ao tirá-la, mas já não temos o mesmo medo de cair e vamos adiante.
Arriscamo-nos um pouco mais!
Certo dia, como um dente de
leite que cai de nossa boca, nos surpreendemos ao pedalarmos livremente das
rodinhas e mesmo do olhar que, sem dúvida, era o mais importante. Importante no
sentido de existir uma pessoa que acredita em nós, que nos demonstra segurança,
que aponta de maneira sensível, o quão capazes somos de pedalarmos ao longo da
vida.
A prática do apoio em saúde,
seja feito matricialmente ou institucionalmente, passa muito pelo tal do
atributo do olhar que nos investe e que nos enche de segurança e, porque não,
de alegria. A alegria de acompanhar a ser livre em determinada trajetória de
cuidado, de experienciar em conjunto uma prática que até então se tinha medo de
executar por ser demasiadamente inesperada e nova dentro do que se conhecia no
cuidar. A aprendizagem se passa pelo apoio a um mundo novo por nascer produtor
de deformidades no que se fazia instituído.