Um dia desses assisti
ao filme “Somos tão jovens” que trata da vida de Renato Russo, guia
musical/poético de algumas gerações brasileiras. Saí do filme angustiado, com
um nó na garganta, com a alma desacomodada e um tanto perdida frente ao mundo. Em
se tratando do filme é importante comentar que não é nada demais, com um
roteiro um tanto pobre e preocupado em fazer uma sequência perfeita da vida do
cantor. Contudo e para, além disso, o fato é que o filme foi uma rememoração do
passado, dos sonhos, das expectativas sobre a vida que já tive e que
compartilhei com muitos amigos. Sonhos coletivos, desejos revolucionários e
algumas ideologias ingênuas em épocas remotas e hoje em dia tão distantes. Literalmente
um tapa na cara frente ao que fiz com o meu destino. Em minha opinião o filme
poderia ter outro título, a saber: “Ainda é cedo”.
Ainda é cedo para
rememorar tais emoções, afetos, vontades de vida que durante a juventude eram
tão claras, brilhantes e possíveis. Olhar para esse lugar produz um susto sem
tamanho, faz repensar tudo que se viveu, todas as escolhas que foram afunilando
cada vez mais a caminhada pela vida. O processo de se “adultizar” parece, de
certa forma, nos tornar menor, quase que como se estivéssemos a cada ano sendo
espremidos pelos passos que damos no nosso percurso patético pela terra. A cada
dia escolhemos algo e essa ação mata milhões de outros possíveis, sonhos que
vão ficando no caminho. Eu sei, isso é muito re-sentimento, mas, não estamos
livres dele...
Como já escrevi, ainda
é cedo para se a ver com tais sonhos colocados para baixo do tapete, reprimidos
e transformados em fantasmas que rodam nosso cotidiano posto e acinzentado.
Parece que à medida que envelhecemos os sonhos são perdidos na mesma velocidade
que as angústias vão aumentando. É um pouco o que Freud nos traz em Mal estar
na civilização: se prevenir da infelicidade já é uma grande felicidade, isto é,
não nos produzindo angústias já está de bom tamanho para aguentar esse mundo
sem sonhos.
O sonho de liberdade
propagandeado no social é instalado desde a mais tenra infância. Na
adolescência tal ideal chega ao ápice, temos a certeza de que estamos nos
libertando cada vez mais, não se sabendo bem do quê, mas algo parece existir,
indo além do que se vive, uma esperança que no futuro a liberdade se efetivará.
Doce ilusão, ao menos para mim, não sei se todos compartilham, o sentimento é
que a cada dia se fica mais amarrado, mais dependente das escolhas que
produzimos. As escolhas nos escravizam... Como ir para outra direção depois que
nos acomodamos num determinado destino? Como voltar para trás, como correr por
caminhos desviantes depois que afirmamos escolhas ao infinito do Universo? Que
bárbaro sufocamento é essa vida! O filme Morangos Silvestres de Ingmar Bergman
trata disso também. As horas da vida vão passando e os desejos vão se esvaindo
como a areia que corre na ampola do tempo. É um sentimento de vertigem que nos
abarca ao nos darmos conta do afunilamento do viver. Andamos cambaleando pelas
calçadas como o professor exemplar de medicina Isak Borg, condecorado pela
Universidade por seus trabalhos prestados mas que não enxerga sentido para os
passos que deu ao longo da vida.
Não posso desejar nessa
produção de vida angustiante outra coisa senão um retorno à infância, lugar de
escolhas ainda rasas, que não têm um enraizamento no qual o andar fica
paralisado. A criança brinca de escolher, escolhe uma porção de coisas e depois
desiste sem a menor cerimônia. Não se cansa de percorrer caminhos inusitados,
se diverte com o estranho ao invés de se aterrorizar e, sobretudo, não se apega
a percursos já demasiadamente explorados e cotidianizados. Faço uma ode ao
devir criança para tensionar essa “adulteza” que nos deixa tão rasos de
sentidos! A estratégia é levar o acaso como potente amigo para sabermos ouvi-lo
e aproveitarmos as possibilidades que nos oferece para deslizarmos por esse
tempo-espaço que a cada dia nos constrange e nos envelhece. Deixo, para
finalizar, a música mais nietzschiana dos Los Hermanos no intuito de nos
inspirarmos...
http://letras.mus.br/los-hermanos/67551/
Identifico me
ResponderExcluir